sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A casa de charutos

Na 1st avenue com a 71st existe uma casinha de charutos... quase todos os dias passo por ela a caminho do trabalho, mas nem sempre reparo que está lá.. ou porque vou entretida a falar com os meus botões, ou porque vou a tagarelar com a Maria Rita, ou simplesmente porque o cheiro de charuto nesse dia não é tão forte ou não é "o" cheiro, aquele que consigo distinguir entre todos os cheiros de charuto do mundo...
... mas hoje não foi um desses dias. Hoje quando passei por esta casinha pequenina, perdida numa rua de Nova Iorque, hoje reparei que ela estava lá... aquele cheiro que sei de cor estava ali! E, num segundo, fui transportada para muito muito longe... viajei no tempo...e vi o Eduardo sentado no sofá, com a sua camisa e as suas calças de tecido, os seus óculos de massa grossa...e o seu charuto na mão... ouvi de novo a Vera e o Eduardo a cantarem, vi-os de novo a dançar, senti de novo aquele amor que sempre admirei tanto...encantei-me com as suas histórias, com as suas aventuras, com uma vida tão cheia de tanto... de novo, estava ali... eu pequenina, com uma vida inteira pela frente, cheia de sonhos... e ele, velhinho, com uma vida inteira já passada, cheio de memórias...
e estas duas vidas, em tantos aspectos diametralmente opostas, estas duas vidas cruzaram-se algures no tempo... e estas duas vidas foram partilhadas, sentidas...amadas...
It was a real privilege to meet you Sir...
... os nossos refúgios podem estar onde menos esperamos... numa casinha de charutos por exemplo....

sábado, 16 de janeiro de 2010

Childhood...

Aqui estou de volta...em Nova Iorque...a tantos quilometros de mim...
...as voltas que a vida dá hein? Quem diria que aquela catraia de Picassinos, aquela pequenina de sorriso sempre nos lábios, ia um dia voar até ao outro lado do mundo...como imaginaria eu pequenina, que quando olhava para o horizonte, à procura sempre de mais, que era para o meu futuro que olhava?
Esta menina cresceu... e hoje especialmente sinto saudades dessa infância distante ...saudades de tanta coisa... saudades de brincar na areia, saudades de brincar no pátio de minha casa com os chinelos do meu irmão crescido e com a bola do meu outra irmão crescido...e de cair por ter tropeçado nos chinelos enquanto tentava com a bola fazer os truques que admirava no meu irmao...e de ao cair de ter chorado...e da minha mãe vir em meu auxilio...e de me levantar...e de eu sentir que tudo estava bem porque ela estava ali....
tenho saudades de ir à praia com a minha irmã-anjo...tenho saudades de ver o pôr-do-sol com ela, de aprender a amar cada segundo do nosso pôr-do-sol (sabes mana, nunca mais vim um por-do-sol como os nossos...porque roubaste ao sol esse brilho, porque o levaste contigo??)...
tenho saudades do chá-das-cinco...tenho saudades daquelas mãos tortuosas a agarrarem as minhas mãos pequeninas, tenho saudades daqueles olhos azuis pequeninos a sorrirem....tenho tantas saudades das palavras...

..tenho saudades das pessoas que a vida arrancou de mim..dos momentos não repetidos, dos momentos nunca vividos... e tenho saudades de mim, da ingenuidade com que acreditava que ia mudar o mundo, tenho saudades da certeza de um novo dia quando me deitava, tenho saudades de acreditar...