sábado, 25 de setembro de 2010

Goodbye New York

Acordei hoje com este aperto no peito... a certeza de que a vida nos leva para onde precisa de levar, que agora é tempo de partir, mas a certeza também de que muito de mim fica nesta cidade. Foram 2 anos de vida... olho para trás e revejo-me em tantos tantos momentos que ficarão gravados em mim para sempre. Não foi fácil, nunca foi fácil. Mas também por isso é tão especial. Sinto dentro a serenidade que se sente quando se tem a certeza que se cumpriu mais uma etapa desta viagem. Quando se sabe que a nossa vida é agora muito maior, que a nossa alma está agora muito mais cheia. Não mudava nada. Não pedia mais do que tive.
Nova Iorque é uma cidade verdadeiramente especial. Há algo nestas ruas, nestes cheiros, nesta mistura de cores, e sabores, e gentes. Há uma magia especial que nos prende, que nos agarra ao primeiro segundo. É uma cidade dura. Há dias em que só queremos sair daqui, em que a confusão natural desta cidade toma conta de nós, em que procuramos um refúgio e não o encontramos. Mas há também outros dias em que nos enche dum modo sem igual. Em que sentimos que a vida é mais vida aqui, que os sonhos são maiores. Que fazemos parte desta cidade, e que somos as pessoas mais sortudas do mundo por isso. E depois as pessoas... as pessoas que deixo cá, as pessoas que levo comigo... Viver em Nova Iorque, trabalhar em Nova Iorque é como um "Big Brother". Passamos quase 24h sobre 24h com as mesmas pessoas, vivemos numa "casa" que não é a nossa, quase quase sem contacto com o nosso mundo real. As relações são vividas intensamente, as pessoas são vividas intensamente. Pouco a pouco criamos afectos que nem sabiamos serem tão intensos. Pouco a pouco agarramo-nos a estes estranhos que encontrámos nesta cidade, nesta aventura. E dói...dói sempre quando partimos.
Vou ter saudades de Nova Iorque... vou ter saudades de bagels, e paninis, e de cachorros quentes, e do central park, da 5th avenue, do soho, da west village, do bryant park...vou ter saudades do barulho da cidade ao longe quando me deito...vou ter saudades do brilho de NY, das luzes, dos sons, dos cheiros... vou ter saudades dos meus ratinhos, da minha bancada, dos posts nas garrafas de ethanol. Vou ter saudades do Hector, do Bruno, do Yutzie, da Selena, da Maureen, do Jared, do Till, da Ayuko, da Helene, da Laura, da Carla... e vou ter saudades de mim...
Há quase dois anos escrevia o primeiro post neste blog. Começava uma aventura que não fazia ideia onde me iria levar....
Agora escrevo o último post, a ultima pincelada deste quadro...
..Estou pronta para voltar a casa.

domingo, 5 de setembro de 2010

Mar

Sabia o mar de cor. Sabia cada pedra e concha e estrela do mar. Sabia as marés. Sabia as luas. Sabia o som da onda que quebra na areia e que não se repete. Tinha crescido a aprender o mar. Tinha crescido com ele ali à sua frente. Eterno. Presença constante que dá força nas manhãs duras, que afasta a solidão nas noites escuras. Tinha aprendido a olhar o mar. A olhar e ver o mar. E senti-lo. Senti-lo na alma como se fosse parte de si, como se aquelas ondas fossem o rodopio de si mesma. Tinha aprendido que o mundo todo ganha a sua verdadeira dimensão no silêncio que se ouve dentro de àgua. Que a paz é mais paz quando o mar nos abraça. E tinha aprendido o pôr-do-sol... esse momento magnifico em que os nossos sentidos se reduzem apenas ao da visão. O Momento que não tem som, nem cheiro, nem sabor, nem tacto...apenas se vê. O Momento que nos lembra que tudo tem um fim, que nos relembra que depois de um fim há sempre um principio, e que nos assegura que todo o fim pode ser infinitamente belo...
Tinha momentos à beira-mar gravados na alma. Tinha o som do mar na noite guardado em si. Tinha memórias de uma praia perfeita. Em que a felicidade era ali. A sua praia. Com o seu céu infinitamente azul. Com o seu mar, sempre revolto, sempre forte. Com o seu pôr-do-sol, sempre perfeito...

Esteve longe desse mar. A vida assim o quis. Acreditou que o mar viveria dentro dela. Acreditou que poderia ver um pôr-do-sol sempre que quisesse. Bastava fechar os olhos e recordar. Mas mais uma vez a vida ensinou-lhe diferente. Ensinou-lhe que as memórias só são suficientes para nos lembrar o quanto necessitamos de algo. Que as saudades só servem para nos fazer querer o reencontro. Que o mar não é eterno, não está sempre em nós. Está quando estamos naquela praia. Está quando o abraçamos. Está quando o ouvimos, e vemos e sentimos e somos.
Reencontrei o mar estes dias. E fui feliz.